Marcas

Publicado em 11/03/2024

Por Liz de Queiroz

 

Olhou-se no espelho e deu um pulo de espanto! O que eram aquelas marcas na testa? Rugas? Como ontem não havia percebido se hoje chamam tanto a atenção? Estava chocada.

Sem olhar no espelho, pensou que tinha levado 43 anos pra ter coragem de cortar uma franja no cabelo e agora teria a franja para o resto da vida, pois se recusava a submeter-se a procedimentos estéticos que utilizam agulhas.

Respirou fundo, colocou o cabelo para o lado e, num ato de bravura, olhou-se no espelho outra vez, com a esperança de que houvesse sido apenas a luz daquele instante a destacar a marca infeliz. Mas ela continuava lá... Como uma lembrança de todas as vezes que, braba, enrugou a testa como forma de expressão. Ah, se tivesse na vida se irritado menos, se enervado menos, se questionado menos... talvez.

Pegou a chapinha e pôs-se a alisar a franja pra frente desesperadamente, o máximo que podia.

Olhou seu reflexo uma última vez e sentiu o coração aos poucos ir acalmando. Ficava bem de franja! Bastava apenas que não estivesse ventando, e o mundo não saberia do seu segredo.

Então se lembrou que morava numa das cidades mais ventosas do mundo e, machucada na sua vaidade, doou todos os espelhos da casa.

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