Não Tropece na Língua

Número: 036
Data: 04/07/2018
Título: AGENTE DE POLÍCIA, VISAR (A) E PEGO

O leitor SAMG, de João Pessoa/PB, anota que é uma agressão à nossa língua “dizer agente de polícia civil ao invés de agente da polícia civil, pois se perguntarmos ao agente onde ele trabalha certamente ouviremos como resposta na Polícia, e não em Polícia”.


Não creio que seja bem assim. Vejamos por que digo isso.


A rigor, uma vez que se qualifique ou determine o segundo substantivo de uma locução, deveria se determinar o antecedente usando da e não de. Por exemplo: ele é chefe de gabinete. Se o gabinete é da Presidência, se diria, como consequência: ele é o chefe do gabinete da Presidência. Mas também é lícito dizer “chefe de gabinete da Presidência” quando se quer ou se precisa manter a unidade da expressão "chefe de gabinete". Isto é: ele é chefe de gabinete (do gabinete) da Presidência. Subentende-se a repetição da palavra “gabinete”.


Outro caso semelhante é o do “projeto de lei orçamentária”, que está registrado, por exemplo, inúmeras vezes na Constituição Federal. Pode parecer estranho, mas tem a mesma lógica: o projeto de lei (da lei) orçamentária. Nesse tipo de estrutura está se evitando – reitero – a repetição do segundo substantivo (lei), que então estaria determinado pelo artigo. O "projeto de lei" forma uma unidade “imexível”: o “projeto da lei orçamentária” seria outra coisa, diferente do “projeto de lei (da lei) orçamentária”.


Chegamos, então, ao agente de polícia. O seu cargo é exatamente este: agente de polícia, assim como “delegado de polícia”. Mas qual polícia? perguntamos. – A polícia civil. Portanto, ele é um agente de polícia da polícia civil. Sem a repetição, dizemos: um agente de polícia civil.


REGÊNCIA DE VISAR


A pedido, repetimos a regência do verbo visar, complementando a abordagem da coluna Não Tropece na Língua 15.


I. Com o sentido de "dirigir o olhar ou a pontaria; pôr o visto em", é transitivo direto:


Visou o alvo / a refém / os pardais.

Os fiscais visaram o passaporte e demais documentos.

O gerente financeiro deve visar a folha de pagamento.


II. Com o sentido de "propor-se, dispor-se, ter em vista, pretender, objetivar", pode ser transitivo indireto (com a preposição A) ou direto:


O ensino visa ao progresso social.

O novo ambulatório visa a atender a população de baixa renda.

As notas, porém, visavam mais o professorado que os alunos.

As medidas propostas visam acabar com a corrupção no Brasil.


PEGO OU PEGADO?


Hoje em dia usam-se indiferentemente os dois particípios – pego e pegado, seja com os auxiliares ter/haver, seja com ser/estar. Pego é a forma inovada e pegado a forma tradicional. Exemplos:


Ele foi pego em flagrante.

Ele foi pegado à força.

Não tenho pego resfriado ultimamente.

Não temos pegado peixes graúdos.