Não Tropece na Língua

Número: 299
Data: 06/09/2017
Título: OU FÁBRICAS DE MEIAS OU FÁBRICAS DE SABÃO

 O leitor Wildemberg Cotts, do Rio de Janeiro, pergunta como reconhecer quando a conjunção ou tem o sentido de exclusão e de equivalência em frases não muito óbvias. Como óbvias ele cita frases do tipo “andar ou caminhar, subir ou descer”, em que está clara a condição de exclusão. O exemplo de equivalência apresentado é “Rui Barbosa ou a Águia de Haia”; aqui, só reconhece o sentido de equivalência do ou quem sabe que Rui recebeu o apelido de Águia de Haia. 

 

De fato, pode haver alguma confusão entre os dois usos da partícula ou se o contexto for insuficiente para elucidar a questão da sua dupla possibilidade de emprego.
 
Em primeiro lugar, ou é uma conjunção alternativa, o que implica alternância ou exclusão. Quando restar alguma dúvida disso, o redator pode repetir a partícula, e então ficará claro desde logo que se trata de exclusão:
 
 
Pode-se tomar chá ou café. [ideia de alternância: v. toma chá e depois café]
 
Pode-se tomar ou chá ou café. [ideia de exclusão: somente um deles]
 
Ou vocês visitam o templo de Hércules ou o de Hermes. 
 
Se a transcrição longa estiver em recuo da margem, ou em letra diferente, ou em espaço menor, o leitor saberá que está lendo um trecho citado.
 
 
Em segundo lugar, ou é uma conjunção explicativa, equivalendo a isto é. Neste caso, para não deixar dúvida ou ambiguidade no texto, pode-se usar a locução ou seja, como é habitual, ou então usá-la mentalmente para tirar a prova:
 
A receita pede meio litro ou 500 ml de leite. (= A receita pede meio litro, ou seja, 500 ml.)
 
Visitem o templo de Hércules ou Héracles. (Os dois se equivalem; portanto: o templo de Hércules ou [seja] Héracles.)
 
--- Mário S. M. da Silva, de Niterói/RJ, entre outros leitores, consulta sobre o plural de locuções adjetivas, ou seja, quando é que se pluraliza o adjunto adnominal constituído da preposição “de” mais um substantivo, como em sala de aula, banho de sol, auto de infração, amor de mãe, tipo de personalidade, termo de convênio, fogo de artifício, cadastro de pessoa, bolsa de trabalho etc.
 
Em princípio, só o primeiro substantivo vai para o plural, ficando a locução adjetiva [duas palavras que correspondem a um adjetivo, como: de mãe = maternal; de infração = infracional; em grupo = grupal] no singular, sobretudo quando o substantivo da locução é abstrato. Então, teremos: salas de aula, banhos de sol, autos de infração, amores de mãe, tipos de personalidade, termos de convênio, fogos de artifício, cadastros de pessoa, bolsas de trabalho, bolsas de estudo, tabelas de decisão, espécies de solo, tons de azul, fábricas de sabão, caixas de cerveja, bancas de jornal etc.
 
No entanto, temos de levar em consideração que existem os casos em que se pluraliza o segundo substantivo. De acordo com Napoleão Mendes de Almeida, isso acontece quando o substantivo do adjunto adnominal, sendo concreto, não expressa “matéria contínua” (como cerveja, café, sabão), mas sim “passa a indicar variedades, unidades, indivíduos”. Neste caso, temos: fábrica de meias e de chapéus, caixa de fósforos, grupo de árvores, mostra de orquídeas, cadeira de rodas, cujo plural é fábricas de meias e de chapéus, caixas de fósforos, grupos de árvores, mostras de orquídeas, cadeiras de rodas.
 
Também existem casos em que o uso não é uniforme, pois depende da interpretação: há postos de combustível/de gasolina (matéria contínua) e postos de combustíveis (indicando variedades); caixas de remédio e caixas de remédios e assim por diante.