Não Tropece na Língua
Número: 287
Data: 14/06/2017
Título: COM REFERÊNCIA AO CÃO BRABO
--- Quando eu digo: em referência e referente? A.M.S., Recife/PE
À primeira vista, o caso parece banal, mas sei que não é, pois muitas vezes já encontrei em redação de aluno a construção “Referente ao verbo, não há erro” quando deveria ser “Com referência (ou Em referência) ao verbo, não há erro”.
A locução com referência a tem função prepositiva; é invariável. O substantivo referência é o núcleo de uma construção adverbial; nesta situação, a expressão pode ser substituída pelas locuções prepositivas que relacionamos abaixo:
Com referência a esses assuntos, é melhor consultar o chefe.
Com relação ao incêndio, não se sabe a causa.
Relativamente ao incêndio do Mercado, ainda não temos o laudo.
Quanto à intenção do réu, nada ficou provado.
Não se sabe nada no tocante a/ no que toca a suas intenções.
No que tange a
No que concerne a
No que se refere a
No que diz respeito a
Já a palavra referente é um adjetivo, um qualificador de nome, e neste caso vem sempre depois de um substantivo; é variável (tem plural):
Ainda não li a crônica referente à atuação da CPI.
As providências referentes ao caso devem ser divulgadas.
Não serão publicados os artigos referentes à corrupção no Paço.
Pode comutar com outros adjetivos:
Li o artigo concernente à impunidade no Brasil.
alusivo
atinente
pertinente
relacionado
relativo
respeitante
--- Existe um aviso nestes termos: O CÃO É BRAVO. Alguém que se diz abalizado em língua portuguesa critica e insiste que a palavra bravo para indicar a ferocidade natural de um animal (racional ou não) tem que ter a forma brabo. Pergunto: onde estaria o fundamento dessa afirmação tão categórica e intransigente? Eduardo, Minas Gerais
Nada nem ninguém deve ser tão categórico em questões linguísticas: tanto se pode fazer uma placa com CÃO BRABO quanto com CÃO BRAVO. Particularmente, prefiro a primeira forma, que é tida como coloquial e informal.
Quem for aos dicionários verá que bravo e brabo têm alguns significados em comum e outros distintos. Por exemplo, só bravo é palavra de aprovação [Bravo! Magnífico!]. Já a mandioca venenosa é braba. O que é ruim, penoso, difícil, grave, geralmente se usa com B: “passamos por uma fase braba; que erro brabo; êta inverno brabo”. Mas só se usa o V quando o significado tem a ver com coragem, bravura: “os bombeiros foram bravos; que mulher brava, suportou tudo”.
Também não se pode esquecer que as consoantes b e v são facilmente permutáveis, como se vê nas variantes bergamota/vergamota, vassoura/bassoura, assobio/assovio. Sendo assim, não está errado o indivíduo que chama seu cão feroz de bravo ou que diz “estou bravo” ao se irritar. Observa-se, contudo, uma preferência por brabo e brabeza quando de trata de zanga ou raiva, exaltação, arrebatamento, severidade. De qualquer maneira, fica valendo o gosto pessoal no uso de mar bravo ou mar brabo, discussão brava ou discussão braba, pessoa brava ou pessoa braba, por exemplo.