Não Tropece na Língua

Número: 252
Data: 21/09/2016
Título: INCIDENTE, QUESITO, TACHAR, TAXAR

> Acidente, incidente 

 

Os dois substantivos têm o significado de acontecimento, ocorrência ou evento de caráter casual, inesperado. A palavra acidente tem outros significados, mas no seu sentido abstrato de processo ela traz a ideia negativa de sofrimento, dano, lesão:
 
O ônibus escolar sofreu um acidente a caminho do colégio, por isso deixou de apanhar as crianças.
 
Já a palavra incidente está relacionada a uma ocorrência de que não resulta ferimento, dano, estrago ou outros fatos graves. Ou seja, quando a circunstância é apenas imprevista mas não apresenta consequência de gravidade, deixa de ser acidente para ser incidente, passando pois a significar “circunstância acidental, episódio, questão acessória”:
 
O ônibus escolar esqueceu de apanhar uma criança no colégio, mas a diretora achou que o incidente não merecia sua interferência.
 
 
> Quesito, requisito
 
Quesito = ponto, questão, pergunta a ser respondida, item.
Requisito = exigência, condição necessária, formalidade a ser atendida.
 
Os quesitos mais difíceis da prova foram elaborados por renomado professor francês.
 
Informação correta é requisito para se ter opinião.
 
Houve um tempo em que quesito valia por requisito no sentido de “condição”. Por exemplo, “preencher certos requisitos para obter emprego” podia também ser dito “preencher certos quesitos”, mas atualmente se faz a distinção entre os dois termos como acima explanado.
 
 
> Tachar, taxar
 
Tachar deriva de tacha, substantivo que vem do francês tache e significa mancha, nódoa ou, figurativamente, defeito moral (mancha espiritual). Daí que o verbo tachar tem o sentido de “pôr mancha ou defeito em; censurar, acusar de”. É um verbo que só se emprega em sentido negativo, para indicar as más qualidades de alguém ou de alguma coisa:
 
O deputado criticou também a oposição, tachando-a de indecisa quanto à emenda proposta pelo presidente da República.
 
O verbo taxar significa “cobrar tributos, fixar o preço, lançar um imposto sobre; impor limites, fixar uma quantia”. Está ligado a taxa (imposto, tributo). 
 
O governo não pretende taxar o preço do álcool combustível.
 
A movimentação financeira será taxada novamente, dizem.
 
É esse o uso tradicionalmente correto. Todavia, os dicionários estão registrando que se pode taxar de boas ou más qualidades as pessoas e as coisas. Mas a opinião do gramático e linguista Celso Pedro Luft (No Mundo das Palavras 210, Correio do Povo, s/d) é de que isso só pode ocorrer com as boas qualidades, nunca com as más: 
 
Se a gente vai na conversa dos dicionários – Verbos e Regimes do Francisco Fernandes, por exemplo –, tachar ‘censurar, acusar’ tanto pode ser escrito com ch como x. Isso era compreensível numa época de indisciplina ortográfica. Digamos, antes de 1943. Depois que se tomou a origem (etimologia) como critério para opção entre s / c, g / j, ch / x, não se justificam variantes ou vacilações. A não ser que se trate de vocábulos de origem desconhecida ou discutível. Uma vez que se sabe que há um derivado de tacha e outro de taxa – onde ninguém discute ch e x -, a distinção entre tachar e taxar é obvia, rigorosa. [...] (“taxar de bom” pode ser, mas não “taxar de ruim”...!).