Não Tropece na Língua

Número: 222
Data: 24/02/2016
Título: SEGUIR(-SE), VENCER(-SE), REQUERER

 --- O verbo seguir, no sentido de vir a seguir, na sequência do texto, é reflexivo? E o verbo vencer, no sentido de chegar o dia de pagamento: é reflexivo? Celso L. B. Fernandes, São Paulo/SP

 

Antes de tudo, gostaria de aproveitar para explicar que todos esses verbos que aparecem acompanhados de um pronome oblíquo átono [me, te se, nos, vos] se chamam verbos pronominais. Existem alguns essencialmente pronominais, que não se usam sem o pronome, como queixar-se, arrepender-se, apiedar-se, indignar-se, suicidar-se, orgulhar-se, apoderar-se, atrever-se etc. O “se”, nesses casos, não tem nenhuma função sintática.
Há verbos transitivos diretos que são eventualmente pronominais, usados com os referidos pronomes átonos ou clíticos para indicar
 
- reflexibilidade (o sujeito pratica e recebe a ação verbal):
               A velhinha se penteia com a mão esquerda. 
               Na briga entre as gangues, Pierre e Pedro se machucaram bastante.
               Tu te esquentas à toa, rapaz!
               Eles gostam de se mostrar, de se exibir...
 
- reciprocidade (um ao outro, mutuamente):
               Cleusa e Carlos se estimam e se tratam como irmãos.
               No Natal e Ano-Novo nós nos cumprimentamos por e-mail.
 
O verbo seguir no sentido de "vir na sequência, vir depois, continuar, prosseguir, suceder" pode ser intransitivo (usado sem pronome) ou pronominal: "as informações que seguem" ou "as informações que se seguem". É também intransitivo com o significado de “estar próximo”. Exemplos: 
 
               Na foto, segue o autógrafo do cantor.     
               Seguem com este minhas recomendações para sua família.
               Não se preocupe: o cheque seguirá junto. 
               Leia atentamente as instruções que seguem (abaixo).
 
O verbo vencer não é pronominal quando usado no sentido de expirar, terminar – ao menos no Brasil de hoje e conforme estatística de corpus linguístico realizada recentemente, a qual não detectou construções do tipo “a fatura se vencerá”, mas sim “a fatura vencerá”, em que vencer é verbo intransitivo:
 
               O prazo vence na segunda quinzena de agosto.
               As promissórias estão vencendo hoje.
               Os títulos venciam no banco e eles nem aí...
 
Devo acrescentar que alguns dicionários, contudo, registram a possibilidade de se empregar o verbo vencer pronominalmente em tal acepção: “o prazo se vence no dia 10”. Esta não seria portanto uma forma incorreta, mas sim desusada.
 
--- Quanto a requerer que o juiz arbitre os honorários, eu me expresso da forma a seguir mencionada, mas não tenho certeza se está correto: requeiro o arbitramento dos honorários advocatícios. V.L.B., Sorocaba/SP
 
Está correto, porque o verbo requerer não se conjuga pelo verbo querer, embora haja algumas formas semelhantes. Assim, dizemos: eu quero, ele quer, nós queremos; mas eu requeiro, ele requer, nós requeremos. Veja também a diferença no passado (pretérito perfeito): eu quis, ele quis, quisemos, quiseram; mas eu requeri, ele requereu, nós requeremos, eles requereram.