Não Tropece na Língua

Número: 237
Data: 08/06/2016
Título: FAZER O QUÊ? E OUTROS QUES SEM ACENTO CIRCUNFLEXO

--- Acentua-se o ‘que’ neste caso: Fazer o quê, Fernando? (quando a frase termina com um vocativo). Carlos Eduardo Miranda, São Paulo/SP

 

Pela norma oficial, não. Reza o Formulário Ortográfico de 1943 (na 14ª regra da Acentuação Gráfica - Obs.) que o acento circunflexo deve ser usado como distintivo ou diferencial entre “porquê (quando é substantivo ou vem no fim da frase) e porque (conj.)”  e entre “quê (s.m., interj., ou pron. no fim da frase) e que (adv., conj., pron. ou part. expletiva)”. Vamos exemplificar essa regra quanto aos dois últimos “ques”:

 

Com acento circunflexo:

. Substantivo masculino: Seu olhar tem um quê de misterioso e vago.

. Interjeição: Quê! isso é intriga.

. Pronome em fim de frase: Fumar pra quê

         Ele falou não sei o quê

         Analise como e por quê.

 

Sem acento:

. Advérbio: Que beleza!

. Conjunção: O ministro disse que vai pensar no caso.

. Pronome: É linda a casa que construíram.

. Partícula expletiva: Que doce que ela é!

 

Em suma: escreve-se o que com acento para marcá-lo como monossílabo tônico, da mesma forma que se faz com dê, lê, sê, e essa tonicidade ocorre com o que quando interjeição ou substantivo e quando pronome no final da frase. 

 

Há, contudo, uma situação que deixa muitos brasileiros em dúvida: é justamente quando o “que” soa como tônico mas não vem no fim da frase – ao menos a frase entendida como um enunciado de sentido completo que se conclui com um ponto (final, de exclamação ou de interrogação). É para evidenciar essa tonicidade que alguns redatores usam o “que” acentuado no meio da frase, especialmente quando vem antes de um vocativo, uma vez que, sintaticamente falando, o vocativo não pertence à estrutura da oração:

 

Fazer o quê, Fernando?

Está pensando em quê, fofura?

Por quê, Senhor?

E se o barco afundar, vamos fazer o quê, Presidente?

São leituras que intermedeiam o quê, para quê, através de quem.

 

Não se pode considerar o acento gráfico um erro nesses casos, de modo algum. Mas pelo sim, pelo não, é uma boa opção ater-se ao preceituado na gramática e não acentuar o “que” situado no meio da frase, com ou sem pontuação na sequência. Assim o fizeram as pessoas que escreveram os períodos abaixo:

 

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