Não Tropece na Língua
Número: 076
Data: 10/04/2019
Título: O TRAVESSÃO
Dos sinais de pontuação, o travessão é um dos mais requisitados atualmente, pelo fato de proporcionar mais clareza do que as vírgulas nas intercalações longas e maior ênfase nos destaques. Travessões substituem e são substituíveis por dois-pontos, parênteses ou duas vírgulas, dependendo do caso. Orientações de uso:
I - Emprega-se um só travessão:
a) para indicar mudança de interlocutor nos diálogos:
- O que é que está pensando fazer?
– Nada.
– Nada, como? Vai deixar o barco andar...
– Vou.
b) para destacar (no final do período) uma explicação, esclarecimento, síntese, consequência ou conclusão do que foi enunciado:
Durante três semanas não mostraram indícios da doença, mas agora estão infectados – sinal de que a vacina não sensibilizou o suficiente o sistema imunológico.
Vive tempos pouco felizes a Justiça brasileira – menos por responsabilidade de quem aplica as leis, mais por conta daqueles que as formulam.
Dialogar com ele é como jogar uma bola contra a parede – ela volta contra a gente.
Precisamos definir as responsabilidades individuais, as coletivas e as responsabilidades das agências formadoras – as instituições educacionais.
Observe que o travessão tem a virtude da síntese, pois pode substituir expressões explicativas como isto é, ou seja e similares. Veja, por exemplo, como fica a última frase sem o travessão: Precisamos definir as responsabilidades individuais, as coletivas e as responsabilidades das agências formadoras, quais sejam, as instituições educacionais.
II - Emprega-se o travessão duplo para isolar orações intercaladas, assinalar (no meio do período) uma reflexão ou esclarecimento, um comentário à margem, ou para destacar, enfaticamente, uma palavra ou frase num contexto:
Um dos programas – monótono – foi sobre a merenda escolar.
Em 83 e 84 – como todos se recordam – houve grandes enchentes em Santa Catarina.
O empréstimo também sofreu o atropelamento – compreensível, eu entendo – do tal plano.
É importante dizer que a preocupação – aliás meritória – é com a qualificação do produtor.
As igrejas florentinas, inclusive a catedral – duomo – Santa Maria del Fiore, ecoam alguma coisa de San Miniato, o que é muito natural, porque não houve arquiteto entre os grandes que fizeram Florença – Arnolfo di Cambio, Brunelleschi, Alberti, Michelozzo – que conseguisse escapar à forte influência daquela obra-prima.
Quando a interrupção é muito longa, dentro da qual já existam vírgulas, prefere-se usar o travessão duplo em vez de mais duas vírgulas. A frase acima é exemplo disso. Também numa enumeração explicativa (relação de vários itens), os travessões darão a clareza que as vírgulas não propiciam, como se constata abaixo:
O movimento geral das disciplinas de comunicação – informática, marketing, design, publicidade – apoderou-se da palavra conceito e a transformou em mercadoria.
É preciso que os três elos dessa corrente – governo, funcionários e população – estejam unidos na campanha.
III – Travessão junto com vírgula.
O travessão pode aparecer antes da vírgula, sem eliminá-la. Isso ocorre quando a intercalação com travessão duplo é colocada dentro de uma intercalação entre vírgulas [ex. 1 abaixo] ou quando a vírgula é usada para separar uma oração subordinada [ex. 2]:
1) Temos no Tesouro, durante os meses de verão – os meses de safra –, valores mais elevados. = Temos no Tesouro, durante os meses de verão (os meses de safra), valores mais elevados.
2) Junto com o teatro que resgata a linguagem erudita brasileira – o do Movimento Armorial de Ariano Suassuna –, nossa dramaturgia se sustenta desse modo. = Junto com o teatro que resgata a linguagem erudita brasileira (o do Movimento Armorial de Ariano Suassuna), nossa dramaturgia se sustenta desse modo.