Não Tropece na Língua

Número: 161
Data: 25/11/2020
Título: CONCORDÂNCIAS ESPECIAIS E CARGOS FEMININOS

Sylvio Bertoli quer saber se não cabe também o verbo no plural nas frases abaixo, que foram objeto da coluna “Falando de números e numerais” publicada há seis semanas (NTL 155). Dizia eu então:


Há uma concordância especial para o verbo ser quando o sujeito indica preço, peso, porção, quantidade, medida. Neste caso o verbo passa a concordar com as expressões muito, pouco, o suficiente, o mínimo, demais etc., permanecendo então na terceira pessoa do singular:


Sete anos de noivado foi muito.

Dez metros de fita é pouquíssimo.

Cem reais é o suficiente.

Seis é o mínimo desejável.

Um é pouco, dois é bom, três é demais.


Todavia, existe uma concordância do verbo ser no plural. Isso se dá quando o substantivo, núcleo do sujeito, está determinado por um artigo. Veja então a diferença:


Os sete anos de noivado de Abel e Marta foram demais, foram um absurdo.

Os seis elementos são desejáveis.

Os dez metros de fita que comprei foram insuficientes.

Os cem reais que me deste foram suficientes.


--- O que me leva a este contato é uma dúvida que me surgiu após ler uma edição do jornal A Gazeta. A manchete principal saiu assim: Quem poderão ser os candidatos locais nas próximas eleições? Gostaria de saber se está correto este título e por quê. Fernando.


A manchete está correta, embora chegue a soar estranha, pois não é muito comum a utilização do verbo ser com um verbo auxiliar, numa locução verbal [poderão ser], junto do pronome interrogativo quem.  Normalmente este pronome leva o verbo para o singular:


Quem será?

Quem sabe quem foi o autor da manchete?

Quem fez isso? 


Todavia, em orações com o verbo ser, o pronome quem pode servir de predicativo a um sujeito no plural. Isso quer dizer que o verbo vai fazer a concordância com o sujeito que estiver no plural:


Quem são eles? Quem somos nós?

Quem serão os candidatos locais nas próximas eleições?

Quem foram os malucos que atacaram o presidente?

"Sabem, acaso, os vultos, quem vão sendo?" (Cecília Meireles)


CONCORDÂNCIA NO FEMININO


--- Queira esclarecer: a gerente/a auxiliar administrativo ou a gerente/a auxiliar administrativa. Luiz Gonzaga Soares, Rio de Janeiro/RJ


Trata-se agora da flexão do adjetivo que acompanha os substantivos comuns-de-dois, ou comuns de dois gêneros. “Administrativo” é um adjetivo, variável em gênero e número. Consequentemente, deve concordar com o substantivo feminino que se refere a uma mulher: a gerente administrativa, a auxiliar administrativa. Dizer *a gerente administrativo seria tão anômalo quanto *a juíza adjunto ou *a diretora-secretário. Outros bons exemplos de cargos femininos:


a secretária executiva

a secretária adjunta

a presidente adjunta

a chefe auxiliar

a assessora especial

a consultora geral

a juíza substituta

a gerente financeira

a auxiliar técnica

a técnica administrativa

a diretora-secretária

a diretora-presidente

a ministra-chefe.


Enfim, se uma mulher ocupa o cargo de prefeito ou de técnico judiciário, por exemplo, ela se torna prefeita, ou técnica judiciária, e assim por diante.