Não Tropece na Língua
Número: 147
Data: 19/08/2020
Título: SEMPRE OS PORQUÊS
Inúmeros leitores têm perguntado a respeito do uso graficamente correto dos porquês brasileiros, já tratados na coluna Não Tropece na Língua 37. Digo “brasileiros” pelo fato de no Brasil termos uma grafia um pouco diferente da de Portugal nesse ponto. Vamos então rever o esquema de uso dos porquês em nosso país.
1) Usa-se POR QUE (preposição + pronome relativo) em perguntas diretas e indiretas; observe-se o acento circunflexo no “que” antes do ponto de interrogação:
Você pode nos dizer por que não devemos tirar proveito da boa pontuação?
Por que as mulheres ocupam tão poucos cargos políticos?
Brizola não aceitou o cargo por quê?
Por que quando se fala em inclusão social feminina se fala também em acesso ao mundo digital?
Nós, sim, temos o dever de perguntar por que não lhes deram opção de vida.
2) Usa-se POR QUE em frases afirmativas/negativas, como complemento (objeto direto) de verbos como mostrar, justificar, saber, explicar, entender e outros:
Ninguém explica por que os preços não caem.
Joseph Stiglitz, Prêmio Nobel de Economia, encantou plateias e mostrou por que provoca calafrios nos burocratas de Washington.
Não entendo por que os eletricitários vão entrar em greve.
Este mês a revista Motor revela por que vale a pena comprar um carro 1.6.
Gostaria de saber por que seu filho faltou à aula ontem.
3) Usa-se POR QUE como complemento das expressões EIS, DAÍ, NÃO HÁ:
Eis por que resolvemos fazer a paralisação.
Não pude me preparar, daí por que desisti do concurso.
“Não há por que temer mudanças. Esse Brasil já tem regras”, disse o presidente da Valisère.
Nesses três casos está sempre implícita a palavra motivo:
Por que (motivo) as mulheres ocupam tão poucos cargos políticos?
Não entendo por que (motivo) os eletricitários entrarão em greve.
Gostaria de saber por que (motivo) seu filho faltou à aula.
Eis por que (motivo) resolvemos fazer a paralisação.
4) Usa-se PORQUE para iniciar orações explicativas e causais; em tais afirmações e respostas temos uma conjunção, que equivale a POIS (já que, uma vez que, pelo fato de que, como):
É preciso alfabetizar as pessoas digitalmente junto com a superação do analfabetismo básico, porque não dá tempo de fazer uma coisa antes da outra.
Hoje, a comunidade se assenta em torno do desmatamento porque essa é a única oportunidade de emprego e de renda.
Muitas crianças simplesmente não conseguem aprender porque estão subnutridas.
A agenda social é a praia das mulheres, porque são elas que têm filhos e cuidam da família.
Nos casos em que se aplica a regra do item 4 pode-se colocar uma vírgula antes do “porque”, a indicar o início de uma oração. Já no tocante aos itens 1, 2 e 3 a colocação da vírgula é totalmente imprópria, para não dizer impossível.