Não Tropece na Língua
Número: 142
Data: 15/07/2020
Título: PRÓXIMO E SEGUINTE, (NEM) TAMPOUCO
--- Tenho visto as palavras próximo/a e seguinte sendo usadas indistintamente quando a pessoa se refere a tempo. Entendo que há uma diferença sutil entre elas e gostaria de saber mais sobre isso. Irene Taitson, Brasília/DF
Há diferença de uso entre os dois adjetivos, sim:
PRÓXIMO é usado para indicar aquilo que se segue ou acontecerá numa situação futura; trata-se do seguinte ao atual, de fato posterior ao momento em que se escreve ou fala:
Poderias ficar em silêncio pelo menos nos próximos dois minutos?
Na próxima semana iremos a Brasília cumprimentar o presidente eleito.
O diretor quis ver o novo regimento, pelo qual deve pautar suas próximas ações.
Este número da revista já está fechado – seu artigo sairá no próximo.
E 2008 chega ao fim. O que nos trará o próximo ano?
SEGUINTE quer dizer subsequente, posterior a outro, ou seja, que vem ou ocorre depois (de um fato anterior que serve de referencial):
Na primeira semana do ano visitamos as cidades históricas, retornando ao Rio na semana seguinte.
Ignorando o plano, a Secretaria assentou, como estava habituada a fazer, suas ações seguintes no quadro de prioridades do seu próprio planejamento.
Guga foi bem no primeiro set mas falhou nos dois seguintes. Assim, não aconteceu a partida seguinte, que seria com um adversário russo. O tenista espera recuperar os pontos perdidos no próximo torneio. [que ainda não aconteceu]
O adjetivo seguinte em geral está relacionado ao tempo passado, mas pode ser usado com verbo no futuro desde que haja essa relação de sequência a um referencial anterior:
Seu próximo ato será a escolha dos assessores; o seguinte será sua nomeação.
Primeiramente vamos revogar a portaria. O passo seguinte será fixar novos juros.
--- Qual a diferença entre tampouco e tão pouco? Airton Santos, São Paulo/SP
--- Sobre a expressão nem tampouco, gostaria de saber se é erro a repetição da negativa, ou apenas uma questão de estilo ou ênfase. A.K., de Brasília/DF
TAMPOUCO é um advérbio que significa também não. Sua grafia vem de tam (= tão) + pouco, que em Portugal se escreve tão-pouco.
TÃO POUCO, separado, são duas palavras distintas que querem dizer aproximadamente muito pouco, por exemplo:
Faz tão pouco tempo que estão casados e já pensam em divórcio.
O salário mínimo compra tão pouco! [= tão pouca coisa]
Quanto a NEM TAMPOUCO, não se trata de erro, mas sim de recurso linguístico de reforço da negação; não só lhe dá mais ênfase como serve de elemento sonoro de ligação (conectivo) entre as orações ou partes da oração, sobretudo na linguagem falada. Assim, é considerado uma alternativa menos formal a tampouco, não havendo necessidade de corrigir os outros quando falam ou escrevem com o acréscimo da negativa. Exemplos:
Não concordamos com a redação do anteprojeto. Tampouco aceitamos as emendas apresentadas.
O deputado não compareceu às sessões, tampouco justificou sua ausência.
Ela não saiu; eu tampouco.
Não proibimos fumar no jardim nem tampouco andar na grama.
A mãe não conseguiu encontrar a boneca que a filha pedira e tampouco viu nas lojas um brinquedo ideal para o menino.
Não quis provar o doce, nem tampouco teve curiosidade a respeito dos ingredientes.
No Mundo das Palavras 3.264, o gramático Celso Luft deu este exemplo: “Não lê, (nem) tampouco escreve”, o que significa que ele considerava facultativo o uso da partícula nem nesse caso.