Não Tropece na Língua

Número: 066
Data: 30/01/2019
Título: PRONOME SE + A SOLDADO E A CAPITÃ

Completando a série de artigos sobre o uso do pronome se como partícula apassivadora ou como índice de indeterminação do sujeito, vejamos um caso de verbo com o pron. se + infinitivo:


Procura-se estudar um outro idioma.

Busca-se domesticar a gata.

Pretende-se alugar uma casa na praia.

Quer-se fazer o melhor possível.

Proíbe-se criar animais em apartamentos.


Tente-se desdobrar essas frases como se faz em Alugam-se casas = Casas são alugadas e se verá que esse desdobramento não é possível. Pode-se dizer que “a gata busca ser domesticada”? De jeito nenhum! Isso significa que domesticar (o infinitivo) é o sujeito (domesticar busca-se = buscamos).


Nesses casos, o verbo usado pronominalmente (procura-se, pretende-se, proíbe-se) fica no singular, mesmo que o complemento do verbo no infinitivo esteja no plural: Procura-se estudar outros idiomas, busca-se domesticar os sentidos, pretende-se alugar casas na praia, quer-se fazer planos possíveis. Nessa categoria de análise se enquadram os “verbos que indicam intenção, declaração de vontade” (Napoleão Mendes de Almeida, Gramática Metódica da Língua Portuguesa, 1983, § 404). Outros exemplos:


Procurou-se verificar os níveis de domínio cognitivo dos alunos.

A partir de agora, pretende-se reivindicar todos os direitos.

Proibiu-se, por escrito, jogar papéis no chão.

Mais uma vez intenta-se criar codornas numa pequena área.

Quer-se escolher os melhores.

Finalmente se conseguiu fazer transplantes de fígado.

Tenta-se não cometer erros de digitação.

Desejava-se vender hortifrutigranjeiros.


POSTOS MILITARES FEMININOS


Militar de Brasília pergunta: “Devo escrever o sargento Marta ou a sargento Marta?” E JCAC, de Porto Velho/RO, quer saber se “é correto dizer que o feminino de capitão é capitoa”.
Primeiramente, devo esclarecer que existem na língua portuguesa as formas femininas soldada, sargenta, coronela, capitã, generala. No entanto, as Forças Armadas preferem não adotá-las, empregando o mesmo nome do posto tanto para os homens como para as mulheres (até porque alguns ficariam estranhos, como "a tenenta"; e outros nem feminino teriam, como major e cabo). Neste caso, a única diferenciação fica sendo o artigo:


A soldado Carla, a sargento Marta e a coronel Maria serão promovidas.

Parece que uma tenente foi desacatada.

O coronel Gomes passou as instruções à capitão Marli Regina.


Essa colocação do artigo no feminino é tão mais importante quando pode ocorrer menção a nome próprio usado por ambos os sexos, como Adair, Ariel, Cleo, Darci, Enéas, Eli: a soldado Darci Lira, o soldado Darci Lira.


Fora da hierarquia militar, no caso particular de capitão, pode-se dizer que é correto – existe esse registro em alguns dicionários – falar em “capitoa”, mas é preferível usar o feminino capitã, palavra aliás bastante em voga, pois designa também o “chefe; a pessoa que comanda, que dirige” ou “atleta que representa a equipe”:


Sônia, capitã da SulBrasil por muitos anos, abandonou o voleibol repentinamente.

Na nossa gincana foi atribuído um prêmio às capitãs das cinco equipes.