Não Tropece na Língua
Número: 055
Data: 14/11/2018
Título: COLOCAÇÃO PRONOMINAL (1)
O uso dos pronomes oblíquos átonos me, te, se, o(s), a(s), lhe(s) e nos em relação ao verbo é bastante livre no Brasil: depende muito do ritmo, da harmonia, da ênfase e principalmente da eufonia. Como a pronúncia brasileira é diferente da portuguesa, a colocação pronominal neste lado do Atlântico também difere da de Portugal. O português brasileiro é essencialmente proclítico, isto é, preferimos usar o pronome na frente do verbo na maior parte do tempo. Tudo poderia se resumir à próclise, então. Mas não é assim tão simples. Há algumas orientações e regras a serem seguidas.
PRÓCLISE OU ÊNCLISE - O pronome pode ficar antes ou depois do verbo quando houver:
1. sujeito explícito antes do verbo:
Ele se manteve / Ele manteve-se irredutível em relação ao divórcio.
Desde os dois anos de idade Laís se veste / Laís veste-se sozinha.
William Golding se consagrou/ consagrou-se como um mestre em esmiuçar questões complexas da natureza humana.
Humilhar o vizinho se tornou / tornou-se uma obsessão para Joel.
Por muito tempo aquelas pessoas se debateram / debateram-se com o alcoolismo.
2. conjunção coordenativa:
Tem rompantes, mas se arrepende / mas arrepende-se depois.
Gostei da festa, porém me despedi / despedi-me cedo.
O governador foi taxativo e se estendeu / estendeu-se longamente sobre o assunto.
3. preposição antes de verbo no infinitivo:
Temos satisfação em lhe participar / em participar-lhe a inauguração da fábrica.
Nas lojas esportivas encontramos o equipamento ideal para nos proporcionar / para proporcionar-nos uma vida sadia.
Tenho o prazer de lhes falar / falar-lhes sobre a filosofia que norteia nossa instituição.
Obs. Quando o pronome é a/as, o/os, torna-se preferível a ênclise, p. ex.: Conseguido o divórcio, sentiu-se tentada a enganá-lo (em vez de "a o enganar") na divisão dos bens. / Tenho o prazer de convidá-los a comparecer ao batismo. / Folgo por sabê-los bem.
RECOMENDAÇÕES
Quem quer redigir com correção e estilo deve cuidar para adotar a próclise nas seguintes situações:
1. Os pronomes indefinidos e relativos e as conjunções subordinativas atraem o pronome átono; para facilitar seu reconhecimento, convém notar que grande parte começa com qu:
Eis o livro do qual se falou a noite inteira.
Procuramos quem se interesse por criação de bicho-da-seda.
Quer me arrependa, quer não, irei lá.
O resultado das urnas serviu para mostrar a falácia daqueles que se jactavam de uma força política que lhes permitia tudo.
Sua carreira política começou em 1955, quando se elegeu vereador pelo antigo PTB.
Em sociedade tudo se sabe. / Onde se meteram eles?
2. Também as palavras de valor negativo atraem o pronome átono:
Nada nos afeta tanto quanto o aumento do leite. / Nunca se viu coisa igual.
Não me diga isso para não me aborrecer. / Ninguém os tolera.
Jamais se soube a verdadeira versão dos fatos.
É interessante observar que, se a palavra negativa precede um infinitivo não flexionado, o pronome pode vir depois do verbo: Calei para não a magoar = para não magoá-la. / Saí para não os incomodar = para não incomodá-los.
3. Advérbios de um modo geral atraem o pronome átono:
Aqui se faz, aqui se paga. / Agora te reconheço. / Sempre se disse isso.
Lá se foi nosso dinheiro... / Talvez nos encontremos. / Devagar se vai ao longe.
Ele certamente a viu. / Muito nos contaram sobre isso. / Logo se saberá o resultado.