Não Tropece na Língua

Número: 286
Data: 07/06/2017
Título: PAISINHO, RESPONDER, CAUÇÃO E XEQUE

                      >> Paisinho e paizinho

 

Veja a diferença que uma letra pode fazer! O primeiro termo é o diminutivo de país; o segundo, de pai. Mesmo a pronúncia é distinta. Situações de uso:
 
O personagem interpretado por Robert Redford no filme Entre Dois Amores pergunta à figura central da história, a escritora dinamarquesa Isak Dinesen: “Ah, você vem da Dinamarca? Aquele paisinho que fica perto da Alemanha?”
 
Disse o menino: Alô, paizinho, estou esperando por você!
 
 
                      >> Responder 
 
Quando se comunica alguma coisa (falando ou escrevendo) em resposta, o verbo responder pode ser transitivo direto ou indireto; no último caso significa que se usa a preposição “a”. A regência tradicional é, por exemplo, “responder a uma carta”, e não “responder uma carta”, considerando-se que alguém responde algo [diz alguma coisa] de uma pergunta, em uma carta etc. No português brasileiro, todavia, essa preposição é muitas vezes omitida, motivo pelo qual no dicionário Houaiss se vê: “1 dizer ou escrever em resposta  Exs.: respondemos que todos somos iguais / responder (a) uma carta / r. às perguntas”.
 
De qualquer forma, gostaria de recomendar o emprego da preposição, que é clássico e mais elegante: 
 
Favor responder às questões. 
 
O rapaz está respondendo a [um] processo. 
 
Já respondi ao questionário enviado pela internet. 
 
Ela não soube responder à pergunta formulada pelo juiz.
 
A essa pergunta ninguém respondeu.
 
Deus respondeu às nossas súplicas.
 
Cabe observar, também, que o verbo responder pode ser usado como transitivo direto e indireto ao mesmo tempo; a pessoa é sempre objeto indireto: 
 
O candidato respondeu “sim” à maioria das questões. 
 
Respondeu ao auxiliar de escritório que o receberia.
 
Não sei o que ele respondeu aos colegas.
 
Eles devem ter respondido que aceitariam o desafio. 
 
Vamos responder-lhe imediatamente.
 
 
                      >> Cheque de caução em xeque
 
Erros de grafia são comuns neste Brasil. Pela internet circulam fotos de placas e cartazes muito curiosos! Mas um dos erros mais interessantes que vi foi este: “O cliente precisa deixar um cheque em calção”. Como era de uma loja de roupas, quem sabe...
 
Enfim, a grafia correta nesse caso é caução, que significa um valor depositado em garantia para assegurar um negócio, uma precaução (cautela).
 
A propósito, vale lembrar outro par de palavras que pode criar confusão para os desavisados: cheque e xeque. Com ch todos sabem do que se trata: um documento bancário. Também poderia ser a terceira pessoa do imperativo do verbo checar (Cheque isso imediatamente!). Com x temos a grafia aportuguesada de “sheik”, chefe muçulmano, e também o movimento do jogo de xadrez em que o rei fica a perigo (o xeque ou xeque-mate). Desta última acepção vem a expressão colocar em xeque, com a qual se diz que alguma coisa foi posta em dúvida, questionada. Exemplos:
 
No filme, colocou-se a autoridade do xerife em xeque várias vezes.
 
A morte de um clandestino preso no trem de pouso de um Boeing 747 põe em xeque a segurança dos aeroportos.
 
A ampliação da competência e a demora estão colocando em xeque a eficiência de uma das mais exitosas invenções da justiça brasileira nos últimos tempos: os Juizados Especiais Cíveis.