Não Tropece na Língua

Número: 035
Data: 27/06/2018
Título: NO MÍNIMO SEM VÍRGULAS

De um articulista do jornal Diário Catarinense: Esta semana o PMDB conseguiu tomar duas decisões, no mínimo, surrealistas.


O que fazem as duas vírgulas ali? Nada, só tiram a fluência da afirmação. Quando no mínimo toma o lugar de um advérbio de intensidade, não deve vir entre vírgulas. Veja que essa mesma frase poderia ser dita assim:


- Esta semana o PMDB conseguiu tomar duas decisões muito surrealistas.

- Esta semana o PMDB conseguiu tomar duas decisões bastante surrealistas.

- Esta semana o PMDB conseguiu tomar duas decisões excepcionalmente surrealistas.


A expressão no mínimo, como se vê, às vezes serve apenas de reforço; não significa “que é o menor”. Portanto, assim como você não usaria entre vírgulas os advérbios de intensidade acima, não deve entalar no mínimo entre tais sinais de pontuação. Mesmo quando tem o sentido de “no menor limite provável”, as vírgulas podem ser eliminadas, principalmente quando no mínimo vem depois do verbo:


Chegaremos no mínimo às 22 horas.

Espero que ele faça no mínimo três pontos.


Também a expressão equivalente pelo menos deve receber o emprego sóbrio das vírgulas, especialmente quando vem depois do verbo. Podemos observar, nos exemplos abaixo, que sem tal pontuação a frase flui melhor, sem tropeços:


Estamos à sua espera há pelo menos vinte minutos.

Ela espera fazer pelo menos quatro pontos.

A inserção do art. 84-A na Lei 9.981/00 é no mínimo impertinente, para não dizer inútil.

Sua atitude causa no mínimo estranheza.


Mas devo ressalvar que a vírgula também pode ser usada em caso de necessária ênfase e sobretudo quando há um deslocamento da expressão (para longe do verbo):


Ela espera fazer quatro pontos, pelo menos.

Disse que a pesquisa vai demandar de dois meses, no mínimo, a quatro, no máximo.


Enfim, em se tratando de no mínimo e pelo menos, seria o caso de dizer: use mas não abuse!


RESPOSTA AO AGRADECIMENTO


André L. S. Machado agradece o envio da coluna Não Tropece na Língua e, “aproveitando o ensejo, gostaria de perguntar como se deve responder a um agradecimento: de nada ou por nada?”


Para responder a um agradecimento usam-se as duas formas, sendo a primeira [de nada] a de uso mais frequente.  Há gramáticos que pregam a utilização de por nada, visto que os adjetivos obrigado/agradecido/grato regem a preposição por, como vimos na coluna passada. Mas também existe o lado da palavra "obrigação". Quando se diz "(estou) obrigado" está implícita a frase “Tenho a obrigação de.../Sinto-me na obrigação de (alguma coisa)”, ao que alguém responde:  "(Você não está na obrigação) de nada", usando então a regência subentendida. Essa a origem da questão.


Em suma, estão todas corretas: de nada, por nada, não por isso, não há de quê.